FILOSOFIA DA CIÊNCIA


“A dúvida é a primeira certeza que a gente tem”


Discorremos ao longo deste estudo os seguintes assuntos:

1- Física e Metafísica;
2- Metafísica e Lógica;
3- Revolução Científica;
4- Revolução Cartesiana;
5- Lógica Matemática;
6- Ciência Clássica e Paradigmas Não Clássicos nas Ciências;
7- Referências.


1. FÍSICA E METAFÍSICA

1.1 Apresentação

Este tópico tem enfoque no movimento e mudança das coisas em si mesmas e no mundo natural (physis), ou seja, a Física de Aristóteles. Para compreender a physis, segundo Aristóteles que é o princípio interno de mudança, é proposto a leitura equivalente do livro metafisica, em que ele distingue as ciências especificas como física e metafisica. Essa distinção entre essas ciências resulta em muitas implicações para o pensamento ocidental, para a filosofia e para as ciências.

1.2 Introdução

No livro a física de Aristóteles é recobrada a obra de filósofos gregos pré-socráticos que antes dele pregavam a physis como parte fundamental da natureza, como duradoura e constante mudança. E ele faz uma crítica aos filósofos pré-socráticos, que tinha uma preocupação muito vinculada à natureza, chamava de teólogos quem abordava a natureza com o entorno de mitos e os fisiólogos aqueles que apresentavam seus entendimentos de maneira evidenciada.

Tales: precursor da filosofia da physis, sendo o primeiro a dizer que a existência de um princípio natural único, causa de todas as coisas que existem é a agua. 

Anaximandro e mileto: defendia a ideia de que o princípio de todas as coisas era o infinito, ou seja, uma natureza infinita e in-definida da qual provem todas as coisas que existem.

Anaxímenes de mileto: em Anaxímenes o princípio de todas as coisas é o ar.

Pitagóricos: o princípio de todas as coisas para os pitagóricos não era um elemento físico e sim os números.

Heráclito de Éfeso: Principio de todas as coisas estava no fogo.

Parmênides: iniciou a ontologia, o estudo do ser, e toda filosofia racionalista.

Melisso: acredita que o conhecimento do múltiplo pode confirmar a coesão e a inércia do Ser.

Empédocles: para este pensador são quatro elementos que principia todas as coisas, a origem do Ser: o fogo, a água, o ar e a terra.

Demócrito: Utiliza o conceito contrário do átomo e do vazio para explicar a origem de tudo.

Anaxágoras: concorda com a questão da imobilidade de mistura e que houve uma separação de todas as substancias por meio de um movimento feito pelo Espirito, que ele considera uma alma independente das outras almas. 

1.3 Desenvolvimento

Aristóteles acredita que o movimento estudo da Física, abarca variação, fluxo, corrupção e produz a mudança, e assume o conceito potência aquilo que é, para o ato aquilo em que se torna para explicar essa mudança por meio do movimento. A matéria é compreendida como substância potencial da forma. O ente se locomove, muda de espaço, gerando uma mudança, porém na teoria Aristotélica, um ser em potência para ser um ato depende do movimento, dessa forma a potência se torna um ato. Assim pode se declarar que o movimento só existe porque há um ser e um tempo para realiza-lo, estabelecendo uma relação entre o tempo e o movimento. O movimento gera a mudança e a circulação de tudo que há na terra, senão seria tudo estático. 

Aristóteles discute no livro Física, as causas e seus elementos, a busca por princípios primeiros e supremos. Houve contradições entre as causas primeiras por muitos outros pensadores que foram criticados por Aristóteles e neste capitulo ele destaca a precisão de se decidir entre a disposição desses princípios, se é uno, logo não é múltiplo, se é finito, não pode ser infinito.

Aristóteles aborda a substância constituída de matéria e forma que torna o sujeito aquilo que ele é. E afirma que todo movimento tem uma causa, que todo ser tem sua causa, material, eficiente, formal e final.

A metafisica apontada como conhecimento suprassensível e fundamenta todos os saberes particulares, uma causa primeira que não oriunda pela causa de tudo.

2. METAFÍSICA E LÓGICA

2.1 A “Metafísica”

“Metafísica” é um dos livros de Aristóteles. O título da obra foi oferecido por Andrônico de Rodes, Filósofo e Arquivista (70 a.C.), pertencente à escola peripatética, escola fundada por Aristóteles, sendo a sua principal contribuição foi a de catalogar os escritos de Aristóteles. Antes do seu trabalho, as ideias de Aristóteles eram largamente conhecidas, mas os seus tratados tinham-se perdidos na obscuridade. Além de arranjar (sequência de operações intelectuais e físicas que visam à organização dos documentos de arquivo ou coleção segundo uma lógica de ordenação), ele criou o nome “metafísica” com o significado “que está depois da física”. A circunstância de haverem sido, na sua edição, colocadas depois dos livros da “Física” deu oportunidade a que, a partir de então, todo o grupo, um total de 14 livros, viesse a ser denominado pelo autor da edição de METAFÍSICA, literalmente “após a física”.

O livro 1 da “metafísica” de Aristóteles aponta para o desejo de conhecer como fundamento da natureza humana. Nesse sentido, ainda continua a afirmação de que o homem iniciou o exercício de filosofar estando exposto aos fenômenos naturais, sobre os quais não havia explicações satisfatórias sobre origens ou efeitos, como, por exemplo, as grandes tempestades e as variações climáticas. O ser humano se admirava diante às variações da se presente natureza e, por isso, procurava compreendê-la melhor. Passados mais de dois mil anos da construção da obra aristotélica, o homem continua se admirando com a natureza e buscando o conhecimento dos fenômenos.

Contudo, estabelecer como causa de todas as coisas algo de natureza material se mostrou insuficiente. Pois, a matéria não é “sujeito” de suas próprias mudanças. “Por exemplo: nem a madeira, nem o bronze são a causa das próprias modificações, pois não é a madeira que faz a cama, ou o bronze a estátua, mas alguma outra coisa é a causa da mudança” [984 a 24-26]. Procurar essa outra coisa é para Aristóteles procurar a causa de movimento ou causa eficiente.

Com isso os que primeiramente procuraram algo parecido com causa eficiente supuseram o amor ou o desejo como princípio. Aqui Aristóteles se refere a Hesíodo e Parmênides. Embora eles tenham dado um passo adiante na investigação das causas, ainda agem de maneira balbuciante, vaga e obscura, segundo Aristóteles.

A metafísica como ciência do suprassensível é o conhecimento puramente inteligível do que está para além da física. A física é concebida, assim, como o lugar da experiência sensível, caracterizado pelo aparecimento ou existência efetiva dos entes; situando-se “além da física”, a metafísica corresponde ao que, antecedendo a toda existência, funda a sua possibilidade de ser: a metafísica corresponde ao suprassensível da essência ou substância. Desse modo, a metafísica é o conhecimento que pressupõe o fundamento como princípio primeiro: uma causa não causada que é causa de tudo.

2.3 Livro 4 da “Metafísica”

Bárbara Cassin e Michel Narcy, em um livro que leva o nome “Decisão do Sentido” e trata do livro IV da “Metafísica”, afirmam que Aristóteles exige de todo homem, se ele quer ser homem, a intenção de “querer dizer alguma coisa”. Para esses autores, Aristóteles quebra a consistência pré-socrática entre dizer e ser e, por sua vez, faz da palavra, objeto de convenção, no qual a palavra significa sempre alguma coisa. Essa é a decisão do sentido enfatizada pelos comentadores. 

Pierre Auben­que vislumbra que no clássico livro, “O problema do Ser em Aristóteles”, enuncia que as especulações de Aristóteles tinham o objetivo de responder aos sofistas. Para esse autor, Aristóteles reconhece o caráter sério da proposta sofística, pois quaisquer que sejam as intenções dos sofistas, seus argumentos estão lá. E, diferentemente do estilo de Platão, ele responde aos argumentos lógicos dos sofistas com a prática da refutação.

Conforme Aristóteles a palavra é um símbolo e não uma coisa. Nesse sentido, ele é o primeiro a romper o “sentido das palavras” e a “natureza das coisas” elaborando uma teoria da significação ao propor uma distância entre signo e significado. A teoria de Aristóteles, na polêmica contra os sofistas, é a experiência da distância. Distância entre linguagem e pensamento e linguagem e ser. Para ele, as coisas têm essência e a linguagem tem sentido. Aristóteles descobre que a linguagem significa. Atrás da linguagem tem uma intenção humana que se dirige para as coisas.

2.4 O princípio de não-contradição

O princípio da não-contradição está no cerne da argumentação do livro IV da “Metafísica” e é o primeiro princípio da “ciência do ser enquanto ser”. Nesse sentido a lei lógica equivale à lei ontológica, pois o princípio que fundamenta toda a investigação metafísica é um princípio lógico. Aristóteles afirma que esse princípio escapa à toda demonstração e, sendo assim, a prova desse princípio deve ser buscada por meio da refutação, já que não é possível à sabedoria demonstrar diretamente a verdade e o valor de um princípio primeiro. 

Quem busca demonstrar algo precisa dizer algo que tenha significado, algo que faça algum sentido. Com efeito, ao se dizer algo, um significado determinado é incorporado ao que se diz. O uso predicativo do ser é aplicado à palavra que se enuncia. Segundo Aristóteles, não se pode pensar nada que não seja determinado. Toda proposição tem: sujeito verbo e predicado. Há, na proposta aristotélica, sempre um sentido determinado pelo predicado da proposição. Uma proposição sempre deve ter um sentido único e é essa a decisão do sentido.

Desta forma, aquilo que define o homem enquanto tal é a linguagem. A linguagem essa que é o que faz do homem, distinto de todos os outros entes. Logo, para ser humano é preciso tomar uma decisão pela linguagem, a condição de ser homem é a decisão por dizer algo que faça algum sentido. Desse modo Aristóteles bane fora da humanidade o ser humano que não oferece sentido a seu discurso. Para ele isso é o mesmo que o silêncio. O que ele pronuncia é inaudito e a refutação é impossível de ser aplicada a essa forma de discurso. 

Conforme Bárbara Cassin, Aristóteles exige que o seu interlocutor fale alguma coisa que faça sentido para que seja considerado um ser humano. Ele entende que todos aqueles que falam sob o efeito de uma aporia ou que entram em contradição. Eles negam o princípio da não contradição, segundo Aristóteles, por pura falta de educação. Para esses é possível aplicar os vários tipos de refutação: pragmática, lógica e transcendental; que as pessoas que não são familiarizadas com o poder significativo das palavras são vítimas de falsos raciocínios quando raciocinam ou quando escutam outros raciocínios.

Diante desses adversários, Aristóteles propõe a refutação pragmática que não se fixa no nível da contradição lógica, do conteúdo da tese propriamente dita, mas se fixa na posição em que se coloca o adversário: se ele recusa o princípio, ele aceita se posicionar no papel do respondente, daquele que defende sua tese contra a contradição. Desse modo sua atitude passa a ser auto-contraditória. Nesse sentido, o adversário se engaja a responder de modo não contraditório a fim de, pragmaticamente, defender sua tese. 

Os outros adversários são aqueles que negam o princípio por falarem sob uma aporia e podem ser persuadidos. Para esses casos, Aristóteles propõe a refutação lógica que consiste em colocar o adversário em contradição lógica. O papel do adversário é o de afirmar um enunciado que constitui diretamente ou indiretamente uma recusa do princípio e sendo colocado em contradição, o adversário pode se declarar convencido pela refutação, quer dizer, reconhecer que sua premissa é falsa ou mal formulada e contraditória com o princípio apenas em aparência, pois ele recusou o princípio por ignorância. É um adversário que a refutação pedagógica traz á razão aristotélica, pois, para Aristóteles, aqueles que falam sob efeito de dificuldades reais podem ser persuadidos.

A petição de princípio é o fundamento da fundação e é o único passo da filosofia – é o ato fundador da “ciência do ser enquanto ser”. O princípio é indemonstrável e todas as refutações são decorrentes dele.

2.5 O motor imóvel

Tal como o princípio da não-contradição está em um extremo do livro IV da “Metafísica” e como o primeiro princípio da “ciência do ser enquanto ser” é indemonstrável, o motor imóvel está no outro extremo da argumentação do livro IV e, além de ser indemonstrável, não está em movimento. Nem todo discurso é passível de refutação e nem tudo está em movimento. Por traz de todo o movimento que garante a vida, existe algo em silêncio e imutável que dispõe um limite a todo o resto.

3. REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

A distinção entre filosofia e ciência é muito recente e consolidou-se apenas nos meados do século XIX.

Duas são as características básicas da ciência moderna que denotam a revolução científica. A primeira delas é a destruição do Cosmos e a segunda é a geometrização do espaço. Os fundadores da ciência moderna não criticaram teorias errôneas e substituíram por teorias melhores, eles destruíram um mundo e substituíram por outro. Criaram um novo conceito de ciência que se distancia do senso comum. A ciência clássica visa não só ao conhecimento teórico, mas, sobretudo à aplicação prática ou técnica.

O pensamento moderno destitui a proposição aristotélica de filosofia da ciência do lugar que a mesma ocupou, desde a antiguidade, até a idade média. O pensamento moderno tem a característica de procurar dominar a natureza, ao invés de contemplá-la. Em um texto intitulado "o pensamento moderno”, Alexandre Koyré coloca em questão os tempos modernos e sua possibilidade de delimitação. Segundo o autor, dizer que a modernidade inicia-se com o fim da Idade Média é muito pouco. Até a Idade Média, o conhecimento humano estava muito atrelado ao modo de concepção da vida que a religiosidade propagava. A ciência, por sua vez, estava muito atrelada à Filosofia e possuía suas restrições. Mas o florescer de novas concepções a partir do século XV permitiu uma reformulação no modo de se constatar as coisas. A nova forma de pensar, comprovar e, principalmente, fazer ciência prosperou-se intensamente em um período que se prolongou até o fim do século XVI.

A Revolução Científica tornou o conhecimento mais estruturado e mais prático, absorvendo o empirismo como mecanismo para se consolidar as constatações. Esse período marcou uma ruptura com as práticas ditas científicas da Idade Média, fase em que a Igreja Católica ditava o conhecimento de acordo com os preceitos religiosos. Embora na época tenha havido grande movimentação com a divulgação de novos conhecimentos e novas abordagens sobre a natureza e o mundo, o termo Revolução Científica só foi criado em 1939 por Alexandre Koyré.

O termo “Revolução Científica” não era usado comumente até 1939 quando o historiador francês Alexande Koyré passou a utilizá-lo para designar o período. Apesar de muitas das pessoas que fizeram a revolução científica expressarem a sua intenção de trazer à tona uma mudança intelectual radical, eles não usavam um termo para se referirem ao que eles estava fazendo. Desde a antiguidade até o período que marcou o início da Revolução Científica, a palavra “revolução” invocava a ideia de um ciclo periódico.

3.1 Galileu Galilei (1564-1642) 

Galileu foi o primeiro espírito que acreditou que as formas matemáticas seriam realizadas no mundo. Tudo o que está no mundo está submetido à forma geométrica; todos os movimentos estão submetidos às leis matemáticas. Fazendo da matemática o fundo da realidade física, Galileu é levado a abandonar o mundo qualitativo. Com Galileu estabelece-se uma ruptura entre o mundo dos sentidos e o mundo real da ciência. Galileu foi um dos grandes protagonistas das mudanças do seu tempo. Não encontramos na sua obra uma filosofia sistemática, mas a sua vida, a sua obra no domínio da ciência e o seu método de pesquisa constituem uma referência fundamental na viragem da ciência medieval para a do mundo moderno.

4. A REVOLUÇÃO CARTESIANA

Penso, logo sou (Cogito, ergo sum) é o pensamento que leva a existência e o sentido das coisas. O eu seguimento do que penso, é um ser imperfeito e finito. Entretanto um ser finito e imperfeito que precisa ter o autoconhecimento de algo infinito e perfeito Deus, que o leva a compreensão de si mesmo, dessa forma a consciência de si resulta na de Deus e dessa forma Deus assegura a verdade viva e simples da alma. O intelectual do infinito foi considerado o maior descobrimento cartesiano.

Toda a concepção de mundo e de homem para Descartes é gerado de forma original, mas é desvirtuada para ser conjugada a humanidade.

Descartes propôs a elaboração de uma natureza cientifica dirigida por leis matemáticas. Ele também expandiu a compreensão de mundo além da física e da matemática, aos estados biológicos, disciplinas como a química, a biologia, a medicina, a psicologia e as ciências sociais tornando-se uma composição muito mais intricada e perspicaz.

Descartes sugere que animais e homens eram máquinas. O homem uma máquina distinta por ter por uma alma inteligente, e o homem/máquina é considerado por ele como resultante do dualismo cartesiano Mente e Corpo são substâncias independentes, uma vez que são distintas. Esse dualismo foi superado quando a mente foi percebida como uma instância natural, e não mais uma entidade distinta e separada.

5. A LÓGICA MATEMÁTICA

Diante do contexto histórico e, principalmente, com o pensamento de Descartes, a matemática suplanta a lógica como disciplina orientadora para o trabalho científico e, mais em geral para as operações do entendimento. A matemática e a lógica são temas dificilmente conciliáveis até a constituição recente da lógica matemática que permite harmonizá-las. Aristóteles considerava a matemática inferior para funcionar como instrumento para o pensamento filosófico, já os modernos consideram a lógica e o seu formalismo inferior para o mesmo. Descartes critica o excessivo formalismo da lógica da Escola. Para ele a esterilidade da lógica escolástica embota a inteligência por uma submissão cega a regras que permitem falar sem discernimento das coisas que ignora. O método deixa de ser um conjunto de receitas. As ideias com as quais Descartes lida são ideias de tipo matemático, fundadas na relação, e não conceito genéricos fundados na extensão.

A lógica formal ou Aristotélica consiste numa investigação das categorias e princípios pelos quais pensamos sobre as coisas, pelo ângulo da estrutura formal, com a abstração do seu conteúdo e pode ser assim descrita: a) lógica das proposições, b) lógica do raciocínio e c) lógica do conceito. Segundo Lukasiewicz, “lógica formal e lógica formalista são duas coisas distintas. A lógica aristotélica é formal sem ser formalista”. 4 Esta afirmação coloca em valor, uma diferença entre as noções de formal e de formalismo. A noção de formal é relativa à forma de pensamento que foi representada em Aristóteles por suas leis silogísticas e, a noção de formalismo 3 LUKASIEVICZ, J. La syllogistique d’Aristote dans la perspective de la logique formelle moderne. Paris: Armand Colin, 1972, p. 27. 4 Ibid., p. 34. exige a adoção de um simbolismo inteiramente artificial. Segundo a definição de Lukasiewicz, o formalismo. Em face dos esclarecimentos de Lukasiewicz, podemos notar a diferença entre a lógica de Aristóteles e a lógica formalista dos escolásticos tão depreciada nos tempos modernos.

De 5 Ibid., p. 35. 6 ARISTOTE. De l’interprétation. In: Organon. (Trad. J. TRICOT). Paris:Vrin, ch. 7, 1994, p. 89. acordo com Brunschwig, essas interpretações mostram-se possíveis visto que, justamente, a constante lógica utilizada por Aristóteles tem um sentido natural. Assim, ele define a proposição particular minimal através da interpretação, “algum A ao menos é B” e, demais, a proposição particular maximal através da interpretação, “algum A ao menos e ao mais é B”. Para ele esta particular maximal porta características naturais.

A partir do comentário de Brunschwig, podemos observar que a ligação de Aristóteles à linguagem natural não é definitiva. Mas, tendo em vista as ambiguidades que podem incorrer, A lógica moderna utiliza quantificadores e não prosdiorismos como “todo” ou “algum”. A diferença está em que a lógica de Aristóteles é construída sobre a base de enunciados e de prosdiorismos e a lógica moderna é, a seu turno, construída através de escrituras e funções proposicionais que se distinguem de uma frase.

Após a formalização de Aristóteles, a lógica foi completamente renovada no período entre 1850 e 1914. Os primeiros nomes de destaque são: 

*George Boole (1815-1864) criou a álgebra booleana.


* Auguste De Morgan (1806 – 1871) inaugurou a lógica das relações a partir da noção de universo do discurso e também iniciou a lógica da quantificação.
* Charles Sanders Peirce (1889 – 1914) avança a teoria das relações; elabora um sistema de quantificação; funda a semiótica; introduz a inclusão e a implicação; trabalha com lógica dos gráficos.

* Gottlob Frege (1848 – 1925) marca o nascimento da lógica matemática. Introduz a noção de função; é o primeiro a introduzir o uso moderno das variáveis, dos quantificadores, dos cálculos de enunciados e de predicados. Com Frege, o conjunto do lógica moderna se organiza.


* Bertrand Russell (1872 – 1970) cria a teoria dos tipos hierarquizada; trata da questão do Um e do Múltiplo descobrindo que existem classes que não têm o mesmo estatuto que os indivíduos.


* Ludwig Wttgenstein (1889 – 1951) caracteriza as leis lógicas como tautologias e as esvazia de conteúdo.

6. CIÊNCIA CLÁSSICA E PARADIGMAS NÃO-CLÁSSICOS NA CIÊNCIA: O significado das qualidades secundárias na natureza.

6.1 Introdução: o problema do conhecimento 

Ao analisarem o contexto cultural e científico da ciência clássica, entre os Séculos XVII e meados do Século XIX, e o contexto posterior, os autores procuram identificar nas práticas científicas as matizes de diferentes visões de mundo e a relação entre homem e natureza. 

O conhecimento e o conhecimento da realidade parecem caracterizar um problema crucial na investigação científica. 

O que acreditamos saber ou conhecer a respeito do mundo, sol, pessoas, outras culturas, sua existência, etc., tudo parece baseado nas suas próprias experiências passadas, pensamentos, sentimentos ou impressões sensoriais (cf. Nagel, 2001, p. 7). 

Se você quer saber se existe um mundo fora, e que realidade ele tem, você não pode simplesmente recorrer ao que está dentro da sua mente ou às suas próprias experiências de como as coisas parecem ser a realidade da sua mente não pode ser o que determina a realidade do mundo fora. 

Sensações correspondem a uma parte da nossa capacidade cognitiva, enquanto pro­priedades são características ou atributos de objetos fora e além das nossas experiências. Se talvez nós tivéssemos um aparato sensorial diferente, provavelmente aquilo que nos parece ser ‘vermelho’, teria um aspecto igualmente dife­rente na nossa experiência de perceber cores nos objetos. 

Nós acreditamos que a ciência tenha conhecimento verdadeiro das coisas e pode nos dizer o que é real no mundo além das nossas próprias experiências. Mas o que a ciência nos diz ser a realidade das coisas não corresponde ao modo como elas nos pare­cem ser nas nossas experiências – a ciência não lida com a aparência das coisas. O que ela procura é compreender a realidade além das aparências. E nós acreditamos e confiamos nas descrições da ciência quanto à realidade das coisas além da nossa capacidade de observação direta. Assim, a ciência lida com o que existe supostamente fora, além das nossas mentes e é real. 

Demócrito de Abdera (cerca de 460 a.C. – 370 a.C.) talvez tenha sido o pai dessa visão de uma realidade verdadeira do mundo além das experiências mentais. Em que só o intelecto, como atividade racional da ciência, pode alcançar o que existe realmente no mundo e compreender que a realidade são átomos e seu movimento no vazio – a realidade, portanto, está além das experiências sensoriais. 

6.2 A ciência clássica 

A ciência clássica do século XVII, celebrizada nos trabalhos de Galileu e Newton na aurora do pensamento moderno, reata a ‘aliança’ entre homem e natureza (Prigogine e Stengers, 1984). Partindo da imagem de uma natureza concebida como ‘autômato’ (ou máquina), encontramos nos trabalhos dos filósofos naturais (hoje cientistas) a submissão do mundo natural às leis matemáticas – a linguagem da matemática é a chave de entrada do mundo natural. 

A linguagem matemática teve um papel fundamental na ciência clássica como representação da realidade da natureza. Considerada a natureza um conjunto ordenado de leis, a linguagem matemática teria o papel de repre­sentar a simetria, a regularidade e o determinismo desse conjunto – nada seria incerto ao ideal de matematização da natureza. Na concepção clássica de natureza, como princípio geral, sustenta-se que onde existe ordem, existe lei. 

A física clássica, em particular, torna-se uma aplicação da linguagem matemática es­sencialmente objetiva e cujos princípios se mostravam universalmente válidos e independentes de interpretação subjetiva o mundo que a física clássica descrevia mate­maticamente era totalmente separado do homem. 

A ‘aliança’ entre homem e natureza, celebrizada nos princípios matemáticos, tinha o estranho movimento de eliminar a experiência humana da verdade do conhecimento – a experiência humana não era ajustada aos processos de representação matemática e quantitativa e estava fora do mundo que ela mesma descrevia. 

No universo de descrição da mecânica clássica, comparativamente à linguagem da lógica clássica, a um objeto quanto à sua posição, por exemplo, só podem corresponder dois valores lógicos (o objeto está em um ponto ou ele não está em ponto) – aqui temos uma descrição lógica bivalente do estado do objeto. A noção de bivalência lógica corresponde a um aspecto fundamental da ciência clássica que é exatamente a concepção determinista das leis da natureza: se as leis da natureza descrevem as coisas assim, elas não podem ser diferentes. 

O que a ciência clássica descreve, portanto, é uma natureza unitária e carente de diversidade qualitativa. Ela procura justificar e afirmar que o objetivo digno do conhecimento científico é a descoberta de um mundo exterior ao homem e cujas leis sejam universalmente necessárias. 

Newton é ‘um homem que descobriu a linguagem que a natureza fala’ e a essência de sua estrutura. Assim, temos nesse contexto histórico a cultura das grandes descobertas científicas e a valorização crescente dos modelos experi­mentais de pesquisa. 

Entre cientistas e engenheiros, a construção e a invenção de máquinas pare­ciam favorecer significativamente a possibilidade de testar e implementar ideias. Assim como a ‘natureza-máquina’ segue leis e tem uma estrutura mecanicamente ordenada, e nada acontece por acaso, uma explosão cultural teve lugar na Europa em torno do modelo das máquinas. 

O ‘mundo-relógio’ constituiu a melhor metáfora ao es­pírito mecanicista quanto à racionalização da Natureza. 

6.3 Galileo Galilei 

O físico italiano Galileo Galilei, famoso por ter sido sentenciado no tribunal da Santa Inquisição e só recentemente absolvido pela igreja católica, talvez seja a expressão melhor do espírito mecanicista e fisicalista na tradição de Demócrito quanto à concepção da reali­dade do mundo fora e além das experiências sensoriais. 

Ele sustentou vivamente uma distinção entre qualidades ou propriedades primárias e secundárias dos objetos no mundo físico; também estabeleceu uma distinção entre o que é absoluto, objetivo, imutável e matemático por oposição ao que é relativo, subjetivo, variável e sensorial. 

Para Galileo, a possi­bilidade de conhecimento verdadeiro da realidade precisa afastar-se da condição dos sentidos de que os objetos senso­riais são reais. É ele que vai introduz a distinção entre qualidades ou propriedades primárias e secundárias dos objetos: 

Propriedades ou qualidades primárias: como número, figura, extensão, grandeza, movimento ou repouso não podem ser separados dos objetos por um exercí­cio de pensamento nosso e, portanto, parecem existir independentemente de experiência sensorial são qualidades ou propriedades inerentes e objetivas dos corpos físicos. 

Propriedades ou qualidades secundárias: como cores, sabores, sons, sensações, etc., são efeitos produzidos na nossa experiência por ação das qualidades primárias reais na natureza elas são subjetivas e relativas às experiências sensoriais. 

Conforme Galilei as propriedades primarias ou qualidades primarias têm uma natureza que pode ser mate­maticamente descrita e, portanto, são declaradas reais e independentes de experiência sensorial – a atividade da ciência consiste em descobrir a realidade das coisas além da aparência subjetiva na experiência humana. Já às propriedades ou qualidades secundárias, elas são simplesmente declaradas ‘nomes’ e não significam nada além ou fora das nossas experiências sensoriais ou mentais. 

É evidente entre os dois pontos de vista que se, por um lado, a razão tira dos sentidos a fonte de conhecimento das qualidades ou propriedades secundárias, por outro, elas são meramente acidentais e contingentes e não podem existir fora da mente. E ainda comparativamente ao atomismo de Demócrito, Galileo sus­tenta que a natureza matemática do movimento atômico e a concepção de um princípio mecânico desse movimento nos corpos, justificam compreender a origem das qualidades ou propriedades secundárias na experiência sensorial como resultado da ação e combinação das qualidades ou proprie­dades primárias as qualidades ou propriedades secundárias são declaradas como efeito nos nossos sentidos das qualidades ou propriedades primárias. 

Conforme Prigogine e Stengers (1991, p. 21-2), a ciência clássica tornou o ‘mundo desencantado’: o que ela descreve está fora e além da experiência humana em função da aplicação de leis matemáticas a uma natu­reza despida de diversidade e qualidades; em particular, as qualidades secundárias consideradas subjetivas e, portanto, fora do escopo do verdadeiro conhecimento científico. 

6.4 Erwin Schroedinger: ecos da ciência clássica 

Erwin Schroedinger, Nobel de Física em 1933, mostra interesses diversos além de um ambicioso projeto de redução da biologia à física o trabalho de Schroedinger acentua o ideal de unidade na ciência do Círculo de Viena. Analisa e explora as relações possíveis entre nossas percep­ções sensoriais imediatas e a imagem cientifica do mundo. Uma primeira constatação, já evidente desde Demócrito e Galileo, é que nossas percepções e experiências sensoriais do mundo externo estão ausentes da imagem científica da realidade física da natureza. Ele procura mostrar que relação ela tem ou pode ter com uma concepção científica da realidade física do mundo. Uma primeira conclusão de Schroedinger é que a sensação de cor não pode ser explicada ou corresponder a algum tipo de realidade física no quadro objetivo das ondas luminosas. No ponto de vista de Schroedinger, podemos observar que a noção de uma realidade do mundo físico além das nossas experiências sensoriais mantém o ideal de conhecimento verdadeiro na tradição mecanicista e fisicalista desde Demó­crito e Galileo. Se existe um mundo fora e além das nossas experiências mentais, é a linguagem da físico-matemática que sustenta a possibilidade de tradução dessa realidade além das aparências.

6.5 Paradigmas não-clássicos na ciência: alguns casos.

6.5.1 Fenomenalismo 

No ponto de vista de Prigogine e Stengers (1991, p. 1; 5), hoje a ciência já não é clássica e podemos identificar uma ‘transformação conceitual’ ou ‘metamorfose’. O que hoje as ciências naturais descrevem é um ‘universo fragmentado e rico de diversidade qualitativa’. E não estamos justificados a afirmar, como a ciência clássica, que o objetivo digno do conhecimento científico seja a descoberta de um mundo fora do homem. 

A ciência clássica considerava a natureza uma máquina regida por leis deter­ministas e universais, hoje a ciência procura compreender um mundo de diversidade e possibilidade crescente de transformações, mutações, descontinuidades; enfim, um mundo de diferentes e possíveis experiências. Já a concepção fisicalista/mecanicista desde Demócrito pouco ou nada importa se a descrição física e objetiva da realidade corresponde ao conteúdo das nossas experiências, portanto, pouco ou nada importa a aparência das coisas, e uma concepção alternativa procura situar à realidade dessas experiências no mundo – aqui é uma questão de ‘salvar as aparências’. Mas antes parece oportuno situar e entender algumas noções fundamentais do Fenomenalismo. 

Aqui podemos compreender uma concepção alternativa ao Fisicalismo de situar ou salvar as aparências das coisas no mundo: na concepção filosófica chamada Fenomenalismo, portanto, o mundo consiste em dados dos sentidos reais e possíveis (Smart, 1991, p. 141). O termo ‘fenomenalismo’ tem como referência o conhecimento da natureza em termos de dados fenomenais ou dados dos sentidos na experiência. 

O Fenomenalismo pareceu ser, a princípio, uma concepção muito natural a certos físicos preocupados com problemas da mecânica quântica. Contudo por outro lado, a esse mundo de coisas ou objetos observados corresponde a realidade interna da mente ou consciência quando você observa alguma coisa é ou não a mente ou consciência das coisas uma parte da realidade do mundo físico? É claro que os físicos acreditam nas bases físicas da mente, no entanto, o problema parece ser como caracterizar a realidade dessa base material ou o conteúdo mental das observações em relação à realidade das coisas no mundo. 

Tentar responder a essas questões levou muitos fenome­nalistas a concluir que a linguagem dos dados dos sentidos evitaria a concepção de uma realidade além das aparências e, portanto, o ideal de realismo na ciência corresponderia a uma ‘teoria da percepção da cortina de ferro’ no ponto de vista fisicalista, por exemplo, a realidade das coisas estaria além das nossas percepções imediatas e ocultas por uma cortina de dados dos sentidos (Smart, 1991, p. 144). 

6.5.2 Complementaridade 

No esquema conceitual da mecânica clássica de Newton, por exemplo, é um procedimento trivial observar e medir a posição e a velocidade dos objetos desde pequenos corpos (átomos) a grandes corpos (planetas) e eles nunca ocupam o mesmo lugar simultaneamente: ou objeto ‘S ocupa o lugar x (p) ou ele ocupa o lugar y (q)’ aqui vale o cha­mado princípio lógico do terceiro excluído (p v q; e lê-se ‘p ou q’) o qual corresponde a um princípio fundamental no universo bivalente da lógica clássica. Já No universo da mecânica quântica, ao contrário, como assinala Werner Heisenberg (1958⁄1995, p, 137), um dos grandes nomes da física no Século XX, o princípio do ter­ceiro excluído é modificado – a posição de uma partícula é habitualmente incerta como, por exemplo, a posição de um elétron em órbita em torno do núcleo. Comparativamente à estrutura lógica dos enunciados quanto à posição do elétron, não se pode aplicar o princípio do terceiro excluído. De acordo com a interpretação do físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962), contribuição decisiva à criação da mecânica quântica, nas condições de incerteza, a descrição do comportamento atômico sugere dois aspectos (onda e partícula) de uma mesma realidade – a esse comportamento estranho dos fenômenos atômicos Bohr designou complementaridade. 

Aplicado o princípio de complementaridade à concepção fenomenalista de realidade do mundo, a um objeto ob­servado parece corresponder a aspectos complementares da observação – aos aspectos externos da realidade correspondem as qualidades ou propriedades primárias; aos aspectos internos, as qualidades ou propriedades secundárias. Por comparação ao ponto de vista da me­cânica clássica, portanto, uma descrição completamente objetiva da natureza se mostra pouco sustentável em função da complementaridade entre interno e externo. Se na concepção de realidade do mundo na mecânica clássica desde Galileo é ‘real’ o que está fora da mente e além das experiências sensoriais (sensações, percepções, observações, etc.), contrariamente, no quadro conceitual da complementaridade, o que está na mente é uma parte dessa mesma realidade. 

6.5.3 Natureza e qualidades ou propriedades secundárias 

É importante destacar que a concepção das qualidades ou proprieda­des secundárias é destituída de sentido no quadro da ciência clássica e conhecimento objetivo da realidade do mundo físico. Mas hoje a ciência e o conhecimento da natureza já não é clássico e, portanto, onde podemos situar as qualidades ou propriedades secundárias porque afinal elas pertencem a certos tipos de objetos no mundo. Talvez seja porque elas têm um sentido fenomênico contrastante com a realidade quantitativa das qualidades ou propriedades primárias do mundo físico, i.é, a fenomenologia das qualidades ou pro­priedades secundárias parece determinada às contingências das nossas experiências das coisas no mundo. Uma realidade fenomênica significa aquilo que é imediatamente presente a uma experiência mental, como, por exemplo, os dados dos sentidos, e as ciências físicas não lidam com conteúdos dessas experiências mentais. 

Conforme Whitehead era sensível ao princípio de complementariedade da mecânica quântica e procuro interpretar seu sentido em relação à concepção das propriedades da natureza. Assim, Whitehead procura exatamente ‘compreender experiência humana como um processo pertencente à natureza como existência física’ (cf. Prigogine e Stengers, 1991, p. 76). Com efeito, ele teria negado o espírito filosófico da tradição mecanicista/fisicalista de ver a experiência humana como expressão subjetiva da consciência ou percepção imediata e, portanto, fora dos objetivos das ciências naturais. 

Percebemos as qualidades ou proprie­dades secundárias porque a mente ou o conteúdo mental das nossas experiências corresponde ao sentido fenomenal da existência de certas coisas no mundo. Assim, usando uma expressão do filósofo americano William James, ‘o mundo é um mundo de experiência’ ou ‘fluxo imediato da vida’, i.é, uma parte da natureza tem lugar nas nossas experiências como expressão de uma realidade fenomenal de certos tipos de coisas. 

Em resumo, quanto à concepção de ‘natureza’ de Whi­tehead, a imagem histórica do mecanicismo/fisicalismo parece determinada pela concepção de bifurcação na natureza e, portanto, por uma cisão entre o que pode ou não ser objeto das ciências físicas, assim como, por outro lado, no sentido do Fenomenalismo, a ideia de ‘acréscimos psíquicos’ às qualidades ou propriedades dos objetos na natureza parece mostrar a raiz comum de um problema – a incompatibilidade entre mente e natureza quanto ao conhecimento da realidade do mundo físico. No ponto de vista de Whitehead, o esquema conceitual de concepção da natureza desde o Século XVII se mostra insuficiente.

6.5.4 Irredutibilidade e realidade da aparência na experiência consciente 

O filósofo americano John Searle (1997) assinala que a hipótese de irredutibilidade da consciência ou experiência consciente da realidade física parece levar a seguinte consequência: no ponto de vista materialista (fisicalista), a hipótese mostra a implausibilidade do dualismo; e neste ponto de vista particular, ao contrário, ela aponta a falsidade do materialismo. Assim, quanto ao materialismo, não existe realidade alguma além da realidade física no mundo; e, quanto ao dualismo, a irredutibilidade da consciência ou experiência consciente à realidade física mostra que os estados mentais estão isolados das explicações e propriedades do mundo material. 

Para Searle, materialismo e dualismo partilham o mesmo modelo de redução e, portanto, partilham a mesma conclusão: a consciência ou a experiência consciente não podem estar no quando da nossa vida científica do mundo. Se podemos sustentar a hipótese de irredutibilidade da consciência ou experiência consciente, não podemos partilhar o mesmo modelo de redução e as categorias de exclusão entre realidade mental e realidade física associadas a ele. Nada parece mais natural. No entanto, quanto à consciência, não parece que podemos simplesmente aplicar a redução ontológica ou ‘nada-exceto’. Mas a consciência é uma propriedade emergente do comportamento causal de neurônios entre si e, portanto, redutível causalmente a eventos do cérebro. Aqui, parece o razoável, podemos aceitar o ponto de vista de Searle e considerar que a irredutibilidade da consciência não nos obriga a aceitar o dualismo de propriedades ou algo parecido e muito menos abandonar nossa visão científica do mundo. 

A experiência subjetiva ou consciente já é uma realidade aparente e, portanto, a irredutibilidade é uma consequência trivial. Aqui precisamos notar que a irredutibilidade não mostra que a experiência subjetiva ou consciente não possa ser parte da nossa visão científica do mundo, mas significa que um modelo padrão de redução é excessivamente excludente.

7. REFERÊNCIAS

MURTA, Cláudia; FERNANDES, Maurício. Módulos de 1 a 6 da disciplina Filosofia da Ciência. Sead/UFES

http://filosofiageral.wikispaces.com/A+Revolu%C3%A7%C3%A3o+Cient%C3%ADfica

http://www.philosophy.pro.br/revolucao_cientifica_seculo_xvii.htm

http://profmarcioramos.blogspot.com.br/2013/02/a-revolucao-cientifica-do-seculo-xvii.html

http://www.ead.ufes.br/pluginfile.php/39736/mod_resource/content/1/AULA%2005.pdf












































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