UNIVERSIDADE FERDERAL DO ESPIRITO SANTO – UFES
LICENCIATURA EM FILOSOFIA - EAD
Disciplina: Evolução do Pensamento Filosófico e Científico
Alunos (as): Maria Telma Jardim Paixão; Larissa Fernandes Coimbra; Luana Ribeiro
Silva Lacerda; Vera Lúcia Nunes Moreira Oliveira e Willias Farias Bastos.
PODEM AS MÁQUINAS PENSAR?
1. Ciência,
filosofia e Inteligência Artificial
Apesar de haver várias respostas diferentes à
possibilidade das máquinas pensarem, dois argumentos já são considerados
tradicionais nesse debate: o primeiro, baseado no teste de Turing (Turing
Test), afirma que - em certa medida - é possível que máquinas pensem. Oposto ao
argumento de Turing se encontra uma tese que foi estabelecida inicialmente pelo
filósofo John Searle (1932), conhecida como o “Quarto Chinês” (chinese room).
1.1 A
máquina de Turing e o modelo de mente
De
acordo com Murta e Mulinari “Alan Mathison Turing (23 de junho de 1912 — 7 de
junho de 1954) foi um matemático, lógico, crip¬oanalista e cientista da
computação britânico.” (p. 01)
Em 1936 Turing escreve um artigo com o
seguinte titulo: “On Computable Number, with an Applicatin to the
Entscheidun¬gsproblem”, neste artigo ele busca formalização matemática da noção
de máquina, que posteriomente ficou conhecido como “máquina de Turing”. Essa
máquina criada por ele teve papel importante na criação do computador moderno
que conhecemos hoje.
Com a formalização Turing defende a tese que:
“[...] todo procedimento mecânico é modelizável por meio de uma máquina de
Turing; ou, já que esses procedimentos são “funcionais” e que se trata, em definitivo,
de cálculo: toda função calculável mecanicamente é calculável por uma máquina
de Turing” (DUPUY, 1996, p. 36). (p. 01)
A noção básica de uma máquina de Turing é
bastante simples. É um recurso que consiste de um mecanismo para fazer uma
marca num rolo de fita, que funciona como uma memória para o sistema. O
mecanismo pode realizar apenas quatro tipos de operações: pode fazer uma marca;
pode remover um marca; pode avançar a fita; pode rebobinar a fita. A própria
fita é dividida em segmentos (ou “células”), cada uma das quais pode ou não ser
marcada e deve ter duração ilimitada. Não importa quanta fita usamos, há sempre
mais (Fetzer, 2001, p.51). (p. 02)
Essa maquina foi criada com fins lógicos
matemáticos, mas conforme os autores deste texto hoje é nítida a importância
que este experimento teve para os problemas filosóficos, em relação entre a
matéria e o pensamento, conhecido também como problema da mente-corpo.
Vale destacar que a máquina Universal de
Turing “é que, embora seja uma máquina simples, ela possui uma enorme potência
computacional, ao ponto de poder imitar qualquer sistema formal, desde que esse
seja formado por uma coleção de elementos arbitrários e regras para sua
manipulação. Assim, a diferença entre um computador atual e uma máquina de
Turing seria apenas de design, e não de potência. É aqui que as noções de
máquina e de mente se aproximam de forma crucial.” (p. 03)
“Em filosofia da mente,
o funcionalismo é um conjunto de teses que defende a análise
do comportamento e fenômenos mentais segundo as funções que desempenham.
Portanto a corrente funcionalista da filosofia da mente toma, em geral, a mente
como o modelo da faculdade de modelizar. Uma vez que se tem uma máquina de
Turing singular, essa corresponderia a uma faculdade da mente”.
É importante ressaltar que “entusiasmo dos
filósofos da época de Turing se dava principalmente devido à hipótese de que a
mente poderia ser um recurso computacional, tal como a máquina de Turing.
Assim, a teoria de computabilidade defendida por Turing estabeleceria os
limites do pensamento, pois todo tipo de pensamento seria, sob certo aspecto,
computacional e modelizável. Teríamos, para esses entusiastas, um modelo
unificado de mente para longe das disputas filosóficas entre dualistas e
materialistas.” (p. 03).
1.2 O jogo da imitação de Turing
Ele também escreveu outro artigo, na qual,
foi.” intitulado Computing Machinery and Intelligence (1950). Neste artigo,
Turing propõe um modo de solução para a questão sobre pensamento e máquinas
(‘podem máquinas pensar?’). 2 A solução de Turing ficou tradicionalmente
conhecida como “o jogo da imitação” (The imitation game”.
O jogo da imitação proposto por Turing
funciona da seguinte forma: o jogo tem a participação de, um homem, uma mulher
e um interrogador, que pode ser de qualquer sexo. O interrogador permanece num
espaço separado dos outros dois e se comunica com eles por meio de algum
recurso, tais como uma máquina de teletipo, que não entregará o jogo. O
objetivo do jogo é que o interrogador decida quem é o homem e quem não é. Os
embaraços impostos pelas regras tornam necessário que o interrogador chegue a
sua suposição somente com base nas respostas dadas às suas questões (FETZER,
2001, p. 53-54).” (p. 04)
Assim, estabelecido os
fundamentos básicos do jogo, existem ainda algumas regras auxiliares:
Ex: “É permitido ao homem que minta, porém é
ordenado à mulher que ela sempre responda com a verdade.”
Na minha humilde opinião por mais que uma
máquina simule respostas corretas sobre o comportamento humano, isso não
significa que a máquina esteja pensando.
Os autores afirmam que embora exista
semelhança ou até mesmo identidade nas respostas é uma ideia bastante
plausível. Porém, o que parece ficar em aberto no jogo proposto por Turing é se
é possível deduzir da semelhança de resposta dos participantes a conclusão de
que ambos possuem sistemas computacionais de operação. Noutras palavras,
podemos até concluir que as respostas são semelhantes, mas não parece ser tão
simples afirmar que o processo que adotamos para dar essas respostas seja o
mesmo que o de uma máquina.” (p. 04)
1.3 O
quarto chinês
John Rogers
Searle (Denver, 31 de julho de 1932) é
um filósofo e escritor norte-americano, professor
da Universidade de Berkeley, na Califórnia, Estados Unidos.
Com o ‘quarto chinês’ o filosofo John Searle
contra-argumenta os funcionalistas que tomaram como fundamento o jogo da
imitação proposto por Turing. “Searle questiona: se uma máquina pode simular
convincentemente uma conversa humana, a máquina necessariamente entende o que
se passa? Para responder essa questão, o filósofo propõe o experimento
denominado “Quarto Chinês” (Chinese Room).” (p. 05)
Os autores explicam a questão do “experimento
de pensamento é o seguinte. Searle é um falante de inglês que não compreende
nada de chinês e está trancado dentro de um quarto. Searle recebe algumas tiras
de papel escritas em chinês por meio de uma abertura. Apesar de não compreender
o que está escrito, Searle tem acesso a um livro que contém um conjunto de
regras, escrito em inglês, que correlaciona a tira de papel que ele recebeu a
outro conjunto de tiras de papel, também escritas em chinês, que está à sua
disposição no interior do quarto. As instruções do livro são do tipo “ao
receber a tira contendo X, coloque pela abertura da porta a tira contendo Y”.
Vale a pena ressaltar que tanto X como Y são mensagens com caracteres em chinês
e que Searle só entende a instrução, escrita em inglês, que correlaciona X com
Y. A correlação entre o símbolo recebido e o símbolo enviado é puramente
formal, isto é, Searle os identifica unicamente pelos seus formatos (LIMA
FILHO, 2010, p. 54). (p. 05)
Por mais que haja um desempenho computacional
ao responder as “questões em chinês tenha passado no Teste de Turing, ou seja,
tenha convencido um chinês que a máquina é um falante da língua chinesa. A
questão que Searle propõe é, então, a seguinte: a máquina literalmente
“compreendeu” chinês? Ou ela meramente simulou a habilidade de entender a
língua chinesa?” (p. 05)
Searle (1980, p. 2) escreve que de acordo com
a Inteligência Artificial forte, a simulação realmente é a mente e, assim, a
máquina literalmente entendeu chinês. Porém, de acordo com a Inteligência
Artificial Fraca, a simulação correta é apenas um modelo da mente. (p. 06)
Analisando o modelo de máquina de Turing e o
contra-argumento de Searle, acredito que as máquinas apenas replicam as
respostas dadas pelos seres humanos, mas daí afirmar que elas pensam é outra
coisa completamente diferente. Por mais que uma máquina replique essas
respostas jamais podemos afirmar que elas pensam.
Conclusão
Neste blog buscamos introduzir o leitor na
discussão em torno da questão sobre a possibilidade das maquinas pensarem. O
objetivo é apresentar a posição do lógico-matemático britânico Alan Turing,
principalmente sua proposta mostrada em seu “jogo da imitação” (The imitation
game) e que serve de base para boa parte dos teóricos da inteligência artificial.
Também foi apresentado como contraponto o argumento do filosofo John Searle
Pautado em seu argumento do “quarto chinês”, que se constitui como uma dura
crítica a visão de Turing sobre a possibilidade de máquinas pensarem.
Essas duas visões são as mais tradicionais no
debate sobre a possibilidade de máquinas pensarem ou sobre inteligência
artificial e também sobre teoria computacional. Começamos então a perceber que
quando envolvemos ciências e sobre tudo inteligência artificial, estamos em contato
com uma área cientifica na qual a filosofia ainda tem grande respaldo.
Podem as máquinas pensar? Para Turing sim,
para Searle não. Eles não são os únicos que dão respostas para esta questão,
mas independente das respostas, o que temos certeza é que a computação e a
inteligência artificial estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia,
avançando cada vez mais.
Referências
MULINARI, Felício; MURTA,
Cláudia. Podem as máquinas pensar? Vitória: SEAD/UFES, 2017.
Indicações de vídeos e filme:
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