A questão de saber se desejamos a vida por causa do
prazer ou o prazer por causa da vida, pode ser deixada de lado por enquanto. De
qualquer modo, a vida e o prazer parecem indissociavelmente unidos e não
admitem separação, já que não há prazer sem atividade e o prazer torna a
atividade perfeita.
(Aristóteles – Ética a Nicômaco)
ÉTICA
Discorremos ao longo deste estudo os seguintes assuntos:
1- O contexto ético anterior a Aristóteles e os conceitos-chaves da ética aristotélica.
2 - A virtude ética.
3 – A relação
estabelecida por Aristóteles entre a virtude ética ou moral, que é própria da
parta irracional da alma, e a virtude dianoética, que é a excelência da função
exercida pela parte racional da alma cujo objeto não são as realidades imutáveis,
mas as experiências práticas.
4 - O voluntário e o Involuntário, condição
previa da harmonização entre a inclinação Natural e a Razão pratica.
5 - A
tendência não correta ao fim: o mal moral.
6. Conclusão
7. Referências
6. Conclusão
7. Referências
A
Tripartição da Alma segundo Platão
1.
O
CONTEXTO ÉTICO ANTERIOR A ARISTÓTELES E OS CONCEITOS-CHAVES DA ÉTICA
ARISTOTÉLICA
Cada cultura, povo, sociedade estabelecem uma concepção
moral, ética, valores que referentes ao bem e ao mal, ao que se deve e o que
não deve fazer. Virtudes que norteiam a conduta humana de forma correta. Esta
noção de virtude foi conceituada por Platão em excelência moral, para ele todos
os seres vivos realizam uma conduta, tem um comportamento próprio. E no que se
refere ao homem sua conduta pode ser para o bem ou para o mal, se ele age a
pender para o bem, agiu com virtude, que pode ser simplificada no caráter do
homem em saber como efetivar suas ações da melhor maneira possível.
Pode-se afirmar que a virtude moral começou com Sócrates,
segundo os escritos de Platão, ele considerava as virtudes como ciência,
valorizando demasiada a razão na ação, como se para ser justo bastava conhecer
justiça. Esta é uma questão da qual Aristóteles discorda, pois acredita que o
fato de saber que existe a moral não significa que há uma conduta ética. É
preciso mais que um saber, agir bem ou mal, é uma ponderação que contextualiza
o agir com os valores morais. E segundo Aristóteles, os ensinamentos socráticos
eram produtos da ausência da comoção da alma, pois não havia para ele nenhuma
diferença entre razão teórica e pratica, que somente o conhecimento teórico
fazia do homem um ser virtuoso, ou vicioso dependendo apenas de quais eram suas
convicções. Porém Aristóteles admite que a razão tem seu valor diante das
decisões humanas, assim notadamente a ética não pode ser restringida somente a
pratica da razão. Como a cidade que precisa de muitos condições como justiça,
sabedoria, moderação e coragem para ser uma cidade com qualidades. Uma cidade
será justa quando cada um cidadão assume seu papel diante da sociedade e
respeita o do outro, será sábia e corajosa quando houver respeito pela justiça.
Dessa forma, entendemos que Sócrates compreende a ética e
virtude por meio dos valores e atribuições morais, e isso depende da
consciência do homem moral. Ele afirma que aquele que sabe os preceitos morais,
que conhece o bem não tem como não atuar virtuosamente, somente aquele que
desconhece é vicioso. Se é graças a Sócrates que foi conhecida a virtude moral,
é graças a Aristóteles o discernimento entre a teoria e a prática moral e o
sentido do âmbito das ações éticas.
O CONTEÚDO E A ESTRUTURA DA ÉTICA À NICÔMACO
Aristóteles escreveu Ética a Nicômaco, em 10 livros, como
uma exortação de um pai preocupado com a educação e felicidade de seu filho,
também almejou com esta obra que as pessoas ponderassem suas ações e colocassem
a razão acima das paixões, procurando a felicidade individual e coletiva, já
que o ser humano é um ser social então as suas ações devem visar o bem comum.
O
homem tem uma função única e exclusiva, a atividade da alma que pressupõe o uso
da razão, o pensar, esse exercício do pensar que é a característica principal
do homem, o que garante um certo modo de vida, que alcança a felicidade. Devido
a felicidade ser uma atividade da alma conforme a virtude perfeita, o homem verdadeiramente
político é aquele que estudou a virtude acima de todas as coisas, visto que ele
deseja tornar os cidadãos homens bons e obedientes às leis. A virtude que
precisamos questionar é a virtude humana, não a do corpo, mas a da alma.
ALGUNS CONCEITOS-CHAVE DA ÉTICA ARISTOTÉLICA
A VIRTUDE
Podemos conceituar a virtude como uma superioridade de
caráter, que se fundamenta em efetivar da melhor forma possível uma função,
norteada pela razão. É a consciência do bem, em praticar ações dignas.
A DOUTRINA DO JUSTO MEIO
É um conceito aristotélico que implica na procura da
felicidade da polis pelo homem. Isto é o homem enquanto integrante da cidade e
sua felicidade estar sujeito a felicidade da cidade. Dessa forma o homem que
alcançou a felicidade é o que alcançou a cidadania. E para isso o ser precisa
ser virtuoso, agir com justo meio que trata-se
da virtude moral como um justo meio entre o exagero e a distorção, ou mesmo da
disparidade de duas emoções, agir de forma moderada. Esse meio termo é
referente ao homem e as condições em que ele age, ou seja agir com justa medida
diante de situações contrárias. Entre uma e outra emoção buscar o equilíbrio.
A NOÇÃO DE ESCOLHA DELIBERADA
A noção de escolha deliberada é o agir consciente, de
acordo com as virtudes, voluntário e não de forma impensada e por desejos. Esta
escolha deliberada está intimamente relacionada ao emprego da razão em as
designações das ações do homem. É a razão que atua em parceria com as emoções,
para que ações virtuosas sejam concretizadas. Em suma deliberar é examinar
entre uma e outra razão rival e optar por uma. E no âmbito ético não há
ilustração para a escolha deliberada, mas pode-se esclarecer que a razão
prática é a de optar de maneira resolvida após ter considerado todas as opções
e alternativas. Vale ressaltar que Aristóteles assegura que a razão decide
quanto aos meios que encaminham ao fim da ação, a proporção que esse fins são
posicionados pelas vontades, apetites.
A NOÇÃO DE DISPOSIÇÃO
Aristóteles explica a
virtude moral como disposição de caráter, ou habito, é uma questão de como o
homem se comporta diante da relação com as emoções, para agir de maneira
deliberada e a disposição está em ajuste com a correta razão. A virtude moral
versa em uma mediania, o meio termo das ações, a medida justa. E ele ainda afirma que a virtude ética ou
moral está relacionada a parte irracional da alma e pelo fato desta não poder
ser doutrinada, é preciso então que ela seja educada, para que a razão aja em
conformidade com o desejo e desta forma atinja uma ação moral.
2- A VIRTUDE ÉTICA
Felicidade, virtude de razão prática
A
primeira preocupação de Aristóteles ao começar a “Ética Nicomaqueia” era
conceituar a felicidade. Ele define felicidade como sendo uma atividade da alma
em consonância com a virtude, a qual implica um principio racional,
(ARISTÓTELES, EM I 7).Faz-se necessário analisar as características atribuídas pelo
filosofo à felicidade, que são: relação entre felicidade e racionalidade; concepção
de felicidade como atividade, e não como estado de espirito.
A
felicidade de acordo com Aristóteles não é mero conforto do individuo, massa
plena realização do homem, destarte uma atividade, enquanto humana, deveria
fazer uso da razão que é um atributo essencial ao homem. A felicidade é
entendida pelo filosofo como bem supremo do homem, fim ultimo das ações
humanas. Esse ‘bem supremo’ é justificado pela razão, visto os fins que homem
alcança no decorrer da vida e os bens são variados.
Conforme
Barbara Botter a felicidade é:
O bem supremo e o fim
ultimo de nossos desejos e, por consequência, de nossas ações, pois o alcance
da felicidade não é instrumental. Isso significa que os outros bens podem se
relacionar facilmente numa cadeia de meios e fins, ao passo que a felicidade
não é meio para outro fim superior a ele. (...) A felicidade é um bem perfeito,
completo ou acabado. A felicidade não tem outro fim superior a ela.
A
felicidade assim sendo inclui todas as etapas que nos leva até ela e não apenas
um fato final, ou um bem exclusivo em detrimento de outros. Todavia ainda no
entendimento da nobre professora Barbara Botter, "ser feliz, não é
suficiente ter uma boa profissão, talvez a profissão desejada, mas também ter
uma família, um círculo de amigos, a saúde, certa quantia de dinheiro, uma
moradia e assim por diante. É isso o que significa afirmar que a felicidade é
um bem inclusivo: ela inclui um conjunto harmonioso de outros bens. A
felicidade é única, mas, como a noção de virtude em Platão, inclui um conjunto
de outros componentes".
Deste modo Aristóteles relaciona felicidade com o desejo, deixando claro, noções de bens desejados e os fins a serem alcançados, conjunto esse que harmonicamente constitui a felicidade.
Aristóteles também introduz a noção de função própria do homem, que é aquela que expressa essencialmente à natureza do homem, a função que é própria apenas do homem e diferencia esse ente natural dos outros, isto é, dos animais e das plantas. A função própria do homem é o exercício da razão. Mais do que isso, uma função pode ser exercida, simplesmente, ou exercida bem, isto é, de forma excelente, logo virtuosa. A conclusão é que a realização do homem, sua felicidade, será a excelente realização da sua função própria.
Deste modo Aristóteles relaciona felicidade com o desejo, deixando claro, noções de bens desejados e os fins a serem alcançados, conjunto esse que harmonicamente constitui a felicidade.
Aristóteles também introduz a noção de função própria do homem, que é aquela que expressa essencialmente à natureza do homem, a função que é própria apenas do homem e diferencia esse ente natural dos outros, isto é, dos animais e das plantas. A função própria do homem é o exercício da razão. Mais do que isso, uma função pode ser exercida, simplesmente, ou exercida bem, isto é, de forma excelente, logo virtuosa. A conclusão é que a realização do homem, sua felicidade, será a excelente realização da sua função própria.
Definição
de virtude moral
Na
sociedade aristocrática arcaica, a virtude (arete) é considerada um atributo
inato, um dom da natureza (GAUTHIER & JOLIF, 1970, p. 108 e 165, tomo II).
Já os Sofistas acreditavam que a virtude é adquirida através do ensino e da
educação. Os sofistas se consideravam mestres em virtudes éticas e politicas.
Todavia
Aristóteles definia a virtude, como uma capacidade dada ao homem por natureza,
mas que era alimentada pela educação e aperfeiçoada pela inteligência. Virtude
ética seria a parte emotiva da alma, a parte irracional. Já a dianoética seria
a excelência da parte racional da alma que esta envolvida em nossos assuntos
práticos do dia a dia. Conforme o filósofo para que o homem seja virtuoso seria
necessário que ele detivesse duas funções, quais sejam: virtude moral ou ética,
ou a virtude dianoética.
É importante ressaltar que as emoções não se identificam de forma imediata com as virtudes, e que não será possível falar de virtudes sem está presente as emoções. Todavia, estas emoções estão na origem do ato moral. Elas movem o agente e, visto que este não é puramente passivo, mas ativo frente às emoções, a parte irracional da alma não é surda à razão. Ele reconhece uma primazia das emoções, visto que sem emoção não há ação e a emoção é responsável para colocar o fim da ação. Se o desejo não almeja algo a ser realizado, não haverá ação alguma. Aristóteles, porém, não reconhece a onipotência das paixões, nem permite às paixões agir de forma independente da razão.
É importante ressaltar que as emoções não se identificam de forma imediata com as virtudes, e que não será possível falar de virtudes sem está presente as emoções. Todavia, estas emoções estão na origem do ato moral. Elas movem o agente e, visto que este não é puramente passivo, mas ativo frente às emoções, a parte irracional da alma não é surda à razão. Ele reconhece uma primazia das emoções, visto que sem emoção não há ação e a emoção é responsável para colocar o fim da ação. Se o desejo não almeja algo a ser realizado, não haverá ação alguma. Aristóteles, porém, não reconhece a onipotência das paixões, nem permite às paixões agir de forma independente da razão.
Para
Aristóteles, a presença das emoções na ação moral é tanto importante quanto à
presença da razão. No começo do Tratado de Aristóteles, no qual, ao definir a
“felicidade”, esta será entendida a partir de nossos anseios e apetites. Entretanto,
Aristóteles acrescenta que, para que a felicidade seja propriamente humana, não
basta ao homem satisfazer seus próprios anseios, é preciso desejar o bem.
Ele
também reconhece que a virtude não é uma qualidade inata, embora o homem possua
uma disposição para adquiri-la. Contudo é preciso deixar claro que disposição
não se identifica com a posse da virtude.
As
primeiras virtudes seriam as inclinações com as quais nascemos; as segundas são
o afinamento e aperfeiçoamento das primeiras: pelo uso da razão e pela prática
reiterada dos atos em uma direção, nos tornamos propriamente virtuosos. Somente
quando homem aperfeiçoa a virtude natural, torna aquilo natural em algo
propriamente humano, aí sim será possível atribuir ao homem à posse da virtude.
É
relevante destacar o papel da educação, pois ela terá a função de estimular os
indivíduos tornar possível o bom exercício da racionalidade. A educação o poder
de transformar uma simples tendência em um habito, uma disposição estável.
Ressalta Zingano, que “o homem virtuoso precisa previamente ter os bons hábitos para então poder fazer operar em seu interior o ato racional que instaura a prudência” (Zingano, 2007, p. 379). Neste sentido aquilo que é natural é apenas uma inclinação e para que se torne um comportamento firme é necessário o exercício da razão prática para que possa operar o alvo da emoção.
Pressupostos da virtude moral
Aristóteles
deixa claro que se os homens praticam atos justos e moderados, eles se tornam
justos e moderados. Contudo, explica que um homem justo não é uma pessoa que
realiza atos justos, assim como um artesão respeita as regras que a sua
profissão impõe de uma forma, por assim dizer, irrefletida. Mas que uma ação
moralmente justa seria aquela que a pessoa realiza como agiria o homem justo.
Ressalta Zingano, que “o homem virtuoso precisa previamente ter os bons hábitos para então poder fazer operar em seu interior o ato racional que instaura a prudência” (Zingano, 2007, p. 379). Neste sentido aquilo que é natural é apenas uma inclinação e para que se torne um comportamento firme é necessário o exercício da razão prática para que possa operar o alvo da emoção.
Das
duas funções da alma irracional, a primeira não há diretamente parte na
virtude, ao passo que a segunda, embora seja irracional, “participa” da razão,
visto que pode escutar a razão.
É
importante salientar que quando somos crianças, a tendência natural de obedecer
às normas em troca de recompensas. Com o tempo e o desenvolvimento da razão, a
pessoa adquire a consciência e passa a respeitar as normas por considerá-las
razoáveis. Todavia Zingano: ”se quem ouve um argumento não tiver a alma
previamente preparada pelos costumes a agir bem, ele não escutará nem mesmo o
compreenderá” (ZINGANO, 2007, p. 379). Eis a razão pela qual a função
irracional da alma só escutará seu superior se for anteriormente educada para
isso.
“Ética a Nicômaco”
Em todas as disposições de caráter que mencionamos, há uma meta a que visa o homem orientado pela razão, e que o meio-termo e determinado pelos ditames da reta razão, intensificando, ora relaxando a sua atividade, havendo um padrão que determina os estados medianos que dizemos serem os meios-termos entre o excesso e a falta. É correto afirmar que não devemos esforçar-nos nem relaxar nossos esforços em demasia nem demasiadamente pouco, mas em grau mediano e conforme dita a ‘reta razão’. Na alma existem três coisas que controlam a ação e a verdade: a sensação, razão e desejo.
1.1 As virtudes da Alma
Em síntese a “Virtudes da Alma”, é formada por três elementos que controlam a ação e a verdade: a sensação, a razão e o desejo. A origem da ação é a escolha e a origem desta é o desejo e o raciocínio dirigido a algum fim, por isso a escolha não pode existir sem a razão e o intelecto, nem sem a moral, pois as boas e as más ações não podem existir sem uma combinação de intelecto e de caráter.
1.2 A verdade da alma
Cinco são as disposições da alma para a verdade, seja as afirmando, seja as negando: conhecimento científico, a arte, a sabedoria prática, sabedoria filosófica (também chamada de prudência) e a razão intuitiva (também chamada de inteligência).
1.3 O conhecimento científico e a Arte
O conhecimento científico: é um estado que nos torna capazes de demonstrar se um homem tem conhecimento cientifico quando tem uma convicção a qual chegou de determinada maneira, e conhece os pontos de partida, pois se estes últimos não lhe são mais bem conhecidos do que a conclusão, toda ciência pode ser ensinada e seu objeto aprendido. A arte relaciona-se com trazer alguma coisa para a existência, e perseguir uma arte significa estudar como trazer para a existência alguma coisa que pode existir ou não, e a causa eficiente que se relaciona com o fazedor e não com a coisa feita.
1.4 A sabedoria prática
Quanto à sabedoria prática, chegaremos à sua definição considerando as pessoas que têm essa virtude. O homem prudente é aquele que é capaz de deliberar bem sobre as coisas que são boas e vantajosas para si mesmo de uma maneira geral. É uma qualidade relacionada com a busca de verdade.
1.5 A intuição racional
O
conhecimento científico é derivado dos primeiros princípios que não são objetos
de ciência, arte, sabedoria prática ou sabedoria filosófica. Desta forma, resta
apenas uma alternativa: a razão intuitiva é a disposição que apreende os
primeiros princípios.
1.6 A sabedoria filosófica
A sabedoria, nas artes, é atribuída aos seus mais perfeitos expoentes. A sabedoria é a razão intuitiva combinada com o conhecimento científico, orientada para objetos mais elevados.
1.7 A sabedoria política
A sabedoria política e a prática são a mesma disposição mental, mas sua essência não é a mesma. A sabedoria política relaciona-se com a ação na cidade e a sabedoria prática com o indivíduo e ele mesmo.
1.8 Investigação e deliberação
Há uma diferença entre investigação e deliberação, pois esta última é a investigação de uma espécie particular de coisa. Devemos apreender igualmente a natureza da excelência na deliberação: se ela é uma forma de conhecimento científico, uma opinião, a habilidade de fazer conjeturas ou alguma outra espécie de coisa. Investigação e deliberação não são coisas idênticas; esta última consiste em investigar um tipo particular de coisa. Devemos determinar a excelência da deliberação. O conhecimento científico não é, haja vista que ninguém investiga coisas que conhece, e a boa deliberação é um tipo de investigação. Tampouco é habilidade em fazer conjeturas – visto que esta pressupõe rapidez, e a deliberação requer longo tempo, e que, entretanto a conclusão do que se deliberou deve ser posta imediatamente em prática. Além do mais, a excelência na deliberação implica raciocínio.
1.9 A inteligência
A inteligência, da mesma forma, e a perspicácia, em virtude das quais se diz que os homens são inteligentes ou perspicazes, nem se identificam de todo com a opinião ou o conhecimento científico (pois nesse caso todos seriam homens inteligentes), nem são elas uma das ciências particulares, como a medicina, que é a ciência da saúde, ou a geometria, que é a ciência das grandezas espaciais..
A inteligência não se relaciona com as coisas eternas e imutáveis, e sim com aquelas sobre as quais podemos ter dúvidas e deliberar. Portanto, seus objetos são os mesmos do que os da sabedoria prática; no entanto, inteligência e sabedoria prática não é a mesma coisa: a sabedoria prática emite ordens, enquanto que a inteligência limita-se a julgar.
2.0 Discernimento
O que se chama discernimento, e em virtude do qual se diz que os homens são "juízes humanos" e que "possuem discernimento", é a reta discriminação do equitativo. Mostra o fato de dizermos que o homem equitativo é acima de tudo um homem de discernimento humano, e de identificarmos a equidade com o discernimento humano a respeito de certos fatos. E esse discernimento é aquele que discrimina corretamente o que é equitativo, sendo o discernimento correto aquele que julga com verdade. Quando falamos de discernimento, de inteligência, de sabedoria prática e de razão intuitiva, atribuímos às mesmas pessoas a posse do discernimento. O bom discernimento é o que julga segundo a verdade.
2.1 Habilidade
A sabedoria prática é a disposição da mente que se ocupa com as coisas justas, boas e nobres, para o homem, sendo essas coisas inerentes a uma pessoa boa. Entretanto, o simples fato de conhecê-las não torna boas as pessoas; é preciso praticar essa sabedoria para tornar-se bom.
Examinemos novamente a virtude, que guarda relação análoga à que a sabedoria prática tem com a habilidade: assim como a sabedoria prática está para a habilidade, a virtude natural está para a virtude no sentido estrito do termo. Em suma, não é possível ser bom, no sentido estrito da palavra, sem ter sabedoria prática, nem é possível ter essa sabedoria sem ter a virtude moral. A escolha não será acertada sem a sabedoria prática, nem sem a virtude, pois esta nos leva a praticar as ações que conduzem a um fim, e a sabedoria prática determina o fim.
Resumindo:
5. A TENDÊNCIA
NÃO CORRETA AO FIM: O MAL MORAL
1. O Analfabetismo Moral
ARISTÓTELES: Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2003.
BOTTER, Bárbara. A virtude Ética. Vitória. Nead/Sead. 2016.
3- A
RELAÇÃO ESTABELECIDA POR ARISTÓTELES ENTRE A VIRTUDE ÉTICA OU MORAL, QUE É
PRÓPRIA DA PARTA IRRACIONAL DA ALMA, E A VIRTUDE DIANOÉTICA, QUE É A EXCELÊNCIA
DA FUNÇÃO EXERCIDA PELA PARTE RACIONAL DA ALMA CUJO OBJETO NÃO SÃO AS
REALIDADES IMUTÁVEIS, MAS AS EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS.
O excesso e a falta
destroem a excelência [...], ao
passo que o meio
termo a preserva. (ARISTÓTELES)
A ética aristotélica inicia-se com o
estabelecimento da noção de felicidade. Neste sentido, pode ser considerada uma
ética eudemonista por buscar o que é o bem agir em escala humana, o agir
segundo a virtude. A felicidade é definida como certa atividade da alma que vai
de acordo com uma perfeita virtude.
Virtude Moral e Intelectual
Aristóteles define a virtude moral como disposição
– já que não podem ser nem faculdades nem paixões – para agir de forma
deliberada e a disposição está de acordo com a reta razão. A virtude moral
consiste em uma mediania relativa a nós. Após estabelecer a virtude moral como
uma disposição – héxis – ou seja, como se dá o comportamento do homem
com relação às emoções, há ainda a necessidade de que a diferença específica
entre virtude moral e virtude intelectual seja explicitada.
Segundo o Estagirita, o que distingue as duas espécies de virtude é a mediania. A virtude intelectual é adquirida através do ensino, e assim, necessita de experiência e tempo. A virtude moral é adquirida, por sua vez, como resultado do hábito. O hábito determina nosso comportamento como bom ou ruim.
Nenhuma das virtudes morais surge nos homens por natureza porque o que é por natureza não pode ser alterado pelo hábito e “a natureza nos dá a capacidade de recebê-las [as virtudes], e tal capacidade se aperfeiçoa com o hábito” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1103 a 26). Virtudes e artes são adquiridas pelo exercício, ou seja, a prática das virtudes é um pré-requisito para que se possa adquiri-las. Sem a prática, não há a possibilidade de o homem ser bom, de ser virtuoso. Tornamo-nos justos ao praticarmos atos justos, pois “toda a virtude é gerada e destruída pelas mesmas causas e pelos mesmos meios” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1103b 5-6). Já que as virtudes morais são vistas como produto do hábito, consequentemente são tomadas como inatas. Ao considerar as virtudes morais como adquiridas, há uma implicação de que o homem é causa de suas próprias ações, responsável por seu caráter – por esse motivo a ação precede e prevalece sobre a disposição. Pode-se notar, pois, que a idéia de justa-medida preconiza que qualquer virtude é destruída pelos extremos: a virtude é o equilíbrio entre o sentir em excesso e a apatia. Portanto, fica evidente que a virtude busca pela harmonia – e esta é dada pela razão entre as emoções extremas. O meio-termo é experimentar as emoções certas no momento certo e em relação às pessoas certas e objetos certos, de maneira certa. Isso é a mediania, é a excelência moral.
Segundo o Estagirita, o que distingue as duas espécies de virtude é a mediania. A virtude intelectual é adquirida através do ensino, e assim, necessita de experiência e tempo. A virtude moral é adquirida, por sua vez, como resultado do hábito. O hábito determina nosso comportamento como bom ou ruim.
Nenhuma das virtudes morais surge nos homens por natureza porque o que é por natureza não pode ser alterado pelo hábito e “a natureza nos dá a capacidade de recebê-las [as virtudes], e tal capacidade se aperfeiçoa com o hábito” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1103 a 26). Virtudes e artes são adquiridas pelo exercício, ou seja, a prática das virtudes é um pré-requisito para que se possa adquiri-las. Sem a prática, não há a possibilidade de o homem ser bom, de ser virtuoso. Tornamo-nos justos ao praticarmos atos justos, pois “toda a virtude é gerada e destruída pelas mesmas causas e pelos mesmos meios” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1103b 5-6). Já que as virtudes morais são vistas como produto do hábito, consequentemente são tomadas como inatas. Ao considerar as virtudes morais como adquiridas, há uma implicação de que o homem é causa de suas próprias ações, responsável por seu caráter – por esse motivo a ação precede e prevalece sobre a disposição. Pode-se notar, pois, que a idéia de justa-medida preconiza que qualquer virtude é destruída pelos extremos: a virtude é o equilíbrio entre o sentir em excesso e a apatia. Portanto, fica evidente que a virtude busca pela harmonia – e esta é dada pela razão entre as emoções extremas. O meio-termo é experimentar as emoções certas no momento certo e em relação às pessoas certas e objetos certos, de maneira certa. Isso é a mediania, é a excelência moral.
Mediania ou Meio-Termo
Ao propor a mediania como gênero de virtude moral,
como regra moral, o Estagirita retornou à sabedoria grega clássica porque esta
indicava a mediania como a regra de ouro do agir moral. A mediania tem o
aspecto de não silenciar as emoções, mas buscar a proporção e, devido a essa
proporção, a ação será adequada sob a perspectiva moral e, concomitantemente, a
ação ficará ligada às emoções e paixões. De acordo com Aristóteles, a posição
de meio é o que tem a mesma distância de cada um dos extremos. Com relação a
nós e sempre considerando nesse viés, meio é o que não excede nem falta. Aqui
fica evidente que o “meio” se dá em relação ao agente, pois “não é único e o
mesmo para todos” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1106 a 34).
Em todas as disposições de caráter que mencionamos, há uma meta a que visa o homem orientado pela razão, e que o meio-termo e determinado pelos ditames da reta razão, intensificando, ora relaxando a sua atividade, havendo um padrão que determina os estados medianos que dizemos serem os meios-termos entre o excesso e a falta. É correto afirmar que não devemos esforçar-nos nem relaxar nossos esforços em demasia nem demasiadamente pouco, mas em grau mediano e conforme dita a ‘reta razão’. Na alma existem três coisas que controlam a ação e a verdade: a sensação, razão e desejo.
Em síntese a “Virtudes da Alma”, é formada por três elementos que controlam a ação e a verdade: a sensação, a razão e o desejo. A origem da ação é a escolha e a origem desta é o desejo e o raciocínio dirigido a algum fim, por isso a escolha não pode existir sem a razão e o intelecto, nem sem a moral, pois as boas e as más ações não podem existir sem uma combinação de intelecto e de caráter.
1.2 A verdade da alma
Cinco são as disposições da alma para a verdade, seja as afirmando, seja as negando: conhecimento científico, a arte, a sabedoria prática, sabedoria filosófica (também chamada de prudência) e a razão intuitiva (também chamada de inteligência).
1.3 O conhecimento científico e a Arte
O conhecimento científico: é um estado que nos torna capazes de demonstrar se um homem tem conhecimento cientifico quando tem uma convicção a qual chegou de determinada maneira, e conhece os pontos de partida, pois se estes últimos não lhe são mais bem conhecidos do que a conclusão, toda ciência pode ser ensinada e seu objeto aprendido. A arte relaciona-se com trazer alguma coisa para a existência, e perseguir uma arte significa estudar como trazer para a existência alguma coisa que pode existir ou não, e a causa eficiente que se relaciona com o fazedor e não com a coisa feita.
1.4 A sabedoria prática
Quanto à sabedoria prática, chegaremos à sua definição considerando as pessoas que têm essa virtude. O homem prudente é aquele que é capaz de deliberar bem sobre as coisas que são boas e vantajosas para si mesmo de uma maneira geral. É uma qualidade relacionada com a busca de verdade.
1.5 A intuição racional
1.6 A sabedoria filosófica
A sabedoria, nas artes, é atribuída aos seus mais perfeitos expoentes. A sabedoria é a razão intuitiva combinada com o conhecimento científico, orientada para objetos mais elevados.
1.7 A sabedoria política
A sabedoria política e a prática são a mesma disposição mental, mas sua essência não é a mesma. A sabedoria política relaciona-se com a ação na cidade e a sabedoria prática com o indivíduo e ele mesmo.
1.8 Investigação e deliberação
Há uma diferença entre investigação e deliberação, pois esta última é a investigação de uma espécie particular de coisa. Devemos apreender igualmente a natureza da excelência na deliberação: se ela é uma forma de conhecimento científico, uma opinião, a habilidade de fazer conjeturas ou alguma outra espécie de coisa. Investigação e deliberação não são coisas idênticas; esta última consiste em investigar um tipo particular de coisa. Devemos determinar a excelência da deliberação. O conhecimento científico não é, haja vista que ninguém investiga coisas que conhece, e a boa deliberação é um tipo de investigação. Tampouco é habilidade em fazer conjeturas – visto que esta pressupõe rapidez, e a deliberação requer longo tempo, e que, entretanto a conclusão do que se deliberou deve ser posta imediatamente em prática. Além do mais, a excelência na deliberação implica raciocínio.
1.9 A inteligência
A inteligência, da mesma forma, e a perspicácia, em virtude das quais se diz que os homens são inteligentes ou perspicazes, nem se identificam de todo com a opinião ou o conhecimento científico (pois nesse caso todos seriam homens inteligentes), nem são elas uma das ciências particulares, como a medicina, que é a ciência da saúde, ou a geometria, que é a ciência das grandezas espaciais..
A inteligência não se relaciona com as coisas eternas e imutáveis, e sim com aquelas sobre as quais podemos ter dúvidas e deliberar. Portanto, seus objetos são os mesmos do que os da sabedoria prática; no entanto, inteligência e sabedoria prática não é a mesma coisa: a sabedoria prática emite ordens, enquanto que a inteligência limita-se a julgar.
2.0 Discernimento
O que se chama discernimento, e em virtude do qual se diz que os homens são "juízes humanos" e que "possuem discernimento", é a reta discriminação do equitativo. Mostra o fato de dizermos que o homem equitativo é acima de tudo um homem de discernimento humano, e de identificarmos a equidade com o discernimento humano a respeito de certos fatos. E esse discernimento é aquele que discrimina corretamente o que é equitativo, sendo o discernimento correto aquele que julga com verdade. Quando falamos de discernimento, de inteligência, de sabedoria prática e de razão intuitiva, atribuímos às mesmas pessoas a posse do discernimento. O bom discernimento é o que julga segundo a verdade.
2.1 Habilidade
A sabedoria prática é a disposição da mente que se ocupa com as coisas justas, boas e nobres, para o homem, sendo essas coisas inerentes a uma pessoa boa. Entretanto, o simples fato de conhecê-las não torna boas as pessoas; é preciso praticar essa sabedoria para tornar-se bom.
Examinemos novamente a virtude, que guarda relação análoga à que a sabedoria prática tem com a habilidade: assim como a sabedoria prática está para a habilidade, a virtude natural está para a virtude no sentido estrito do termo. Em suma, não é possível ser bom, no sentido estrito da palavra, sem ter sabedoria prática, nem é possível ter essa sabedoria sem ter a virtude moral. A escolha não será acertada sem a sabedoria prática, nem sem a virtude, pois esta nos leva a praticar as ações que conduzem a um fim, e a sabedoria prática determina o fim.
4. O VOLUNTÁRIO E O
INVOLUNTÁRIO, CONDIÇÃO PRÉVIA DA HARMONIZAÇÃO ENTRE A INCLINAÇÃO NATURAL E A
RAZÃO PRÁTICA
"a parte irracional tem a capacidade de
"escutar” a razão".
1.
A racionalização do desejo
De que modo o nosso
desejo torna-se um desejo racional?
Para
responder a esta questão, Aristóteles introduz, no livro III da Ética
Nicomaqueia, a questão da voluntariedade, ou seja, do critério que torna uma
ação voluntária (hekousion) e o que é que torna uma ação involuntária.
Para qualificar uma ação
como voluntária, temos que partirmos de dois pressupostos necessários:
primeiro, o princípio motor da ação deve estar no próprio agente e, segundo, o
agente deve ter conhecimento das circunstâncias particulares em que está
agindo, ou seja, essa escolha deliberada é, segundo o filósofo, uma ação
voluntária. Somente essas ações voluntárias podem ser consideradas na
construção da virtude, uma vez que esta é a disposição ligada à escolha
deliberada, voluntária. Se a razão determina de forma consciente as decisões
voluntariamente escolhidas, os desejos, ao contrário, busca a realização do ato
desejado, sem a análise do que isso pode vir a gerar, razão pela qual, deve a
parte emocional da alma "dar ouvidos” à razão, pois assim, com as escolhas
deliberadas o individuo realiza seus atos, consciente dos meios para se chegar
ao fim, analisando as consequências para tanto.
É pesando a razão que se pode
conhecer o impacto que as escolhas deliberadas podem ter, sendo o homem bom ou
mau quando suas ações promovem a mudança de seu caráter, podendo ser virtuoso
ou vicioso, ou seja, se decide ser guiado pela razão ou meramente pelos
desejos, sem que os mesmos sejam educados para pesar a razão em seus atos. As
ações involuntárias são o tipo de ações praticadas sob compulsão ou por ignorância. Assim, se diz que um ato é
involuntário quando a sua origem é externa ao agente, quando este não tem poder
deliberativo ou impeditivo sobre uma ação, o agente não contribui para um ato,
mas é antes, o sofredor de um ato. Diz Aristóteles, "uma ação é
involuntária quando uma pessoa é arrastada pela força do vento ou por outra
pessoa qualquer contra a sua vontade”, ou seja, quando o agente não delibera
sobre uma ação ou escolhe praticá-la, mas é a vítima de uma ação devido a
forças que escapam ao seu controlo.
A compreensão que Aristóteles nos
remete sobre a racionalização do desejo é a de que o desejo racional é um
desejo deliberado (consideração das alternativas possíveis que certa situação
oferece à escolha. O objeto de ambas é o mesmo, salvo pelo fato de que o objeto
da escolha já está definido pelo processo deliberativo a que a escolha põe
termo). Já o desejo em seu estado natural é irracional, sendo a ação
deliberativa um meio de racionalizar o desejo. .
Então, a parte irracional seria o desejo, e este tem a capacidade de
ser guiado pela razão na medida em que deliberamos, e logo após, realizamos a
escolha, tornando o homem responsável da ação pelo fato de que ele poderia ter
feito outra coisa e isso estava em seu poder.
Livro III trata do tema das ações voluntárias e involuntárias, ponderando sobre a liberdade de escolha. Essa distinção é fundamental para julgar sobre a responsabilidade dos atos de cada um, o que será abordado ao longo do capítulo. Somente as ações voluntárias (sejam boas ou más) podem ser julgadas, pois estas dependem das escolhas do indivíduo.
2. A ação responsável e a responsabilidade
indireta do caráter
A principio para compreendermos o processo de formação do caráter é
preciso analisar o procedimento que permite ao agente harmonizar os fins postos
pelo desejo com a razão. Aristóteles aponta várias vezes que os fins das ações
são postos pelo desejo e a razão não parece poder de forma alguma interferir
nesse momento, por isso, é preciso a harmonização entre desejo e razão. Pelos
desejos o homem não é diretamente responsável. No entanto, se no surgimento do
desejo a razão não tem parte, ela interfere na determinação da realização
dos desejos.
A razão define o modo pelo qual o desejo será realizado.
Isso influencia grandemente no desejo mesmo, visto que se a razão encontra um
obstáculo que não pode ser superado ao longo do caminho, o desejo será abandonado,
ou sua realização modificada. O desejo é influenciado pela natureza do agente
e, sobretudo, pelo caráter do mesmo.
Julgamos
o caráter de um homem por suas escolhas, pelo objeto em função do qual ele age,
e não pelo próprio ato. Isso está ligado ao fato de que uma ação poderia ser
involuntária, quando praticada por compulsão ou por ignorância, mas ninguém
escolhe involuntariamente, aponta Aristóteles no livro II (Ética Eudemia).
Embora surpreendente essa declaração parecesse
entrar em conflito com a tese de que só deliberamos sobre os meios, ao passo
que os fins das ações são postos pelo desejo. Pode se afirmar que os fins se
dão a mim com base em minha educação e em função de minha natureza
prática, porém, as duas dependem dos atos que pratico.
A ideia
de Aristóteles, mesmo que o indivíduo não tenha plena e diretamente
responsabilidade Pela sobre os fins de suas ações, pois os fins são postos
pelas emoções, é suficiente que o agente delibere sobre os meios que conduzem
ao cumprimento do fim, para que ele se torne inteiram A
responsabilidade, entretanto, parece limitada porque ele aparentemente não tem
domínio sobre seus desejos e o desejo põe diretamente o fim da ação. É
relevante o fato que se nossos desejos se dão em função de nosso caráter, a
formação do caráter se dá a partir de ações repetidas em certa direção.
O homem é responsável pelos seus atos. Atos que
geram em nós determinadas disposições são voluntários, ou seja, o ato tem sua
origem no interior do agente e o agente conhece as circunstâncias particulares
em que o ato se realiza, e torna mais fortes a responsabilidade moral sobre as
ações praticadas.
Há um elemento natural na composição do caráter
humano e não é possível afirmar que ele dependa totalmente de nós, entretanto,
Aristóteles afirma que “nós somos de certo modo responsáveis por
nossas disposições de caráter”, em função de que o processo
educativo pelo qual se dá a formação do caráter é formado de ações repetidas e
por cada uma destas ações o agente é responsável.
Para dizer que nosso caráter também depende de
nós, o filósofo aponta que “É no exercício de determinadas
atividades que se formam as disposições de caráter.”
Se o agente conduz sua vida de uma maneira
descuidada, ele se torna uma pessoa negligente.
A excelência e deficiência moral estão ao nosso
alcance do mesmo jeito. Ou seja, somos responsáveis pela boa ação, e o somos
pela má ação.
O hábito do caráter é
considerado por Aristóteles como a segunda natureza do agente, sua natureza
prática. E esta natureza prática, oposta da primeira, é parcialmente
voluntária.
Ainda na Ética a Nicômaco, livro III, Capítulo 02,
Aristóteles apresenta uma reflexão sobre a escolha. Segundo o filósofo, ela
parece ser algo voluntário, porém não é pela involuntariedade que o estagirita
a define. A escolha não é comum à irracionalidade; segundo o autor ela se faz
contrária ao apetite e não se relacionando com o agradável e o doloroso. Ela
não visa às coisas impossíveis, relaciona-se com os meios e não com os fins e
não se identifica com a opinião. Para Aristóteles, a escolha somente pode ser
caracterizada a partir do binômio bondade-maldade.
· Voluntário: quer livremente;
· Involuntário: não quer (seja livremente, por compulsão ou coação);
· Não-voluntário: é contra a vontade; a pessoa quer, mas não pode.
De acordo com a ética aristotélica, o homem só se tornará perfeito e
virtuoso, quando dominar seu caráter e agir racionalmente.
5. A TENDÊNCIA
NÃO CORRETA AO FIM: O MAL MORAL
1. O Analfabetismo Moral
A
última etapa do nosso caminho é o retrato da pessoa que desobedeceu todas as
regras morais, as quais teriam permitido e aprimorado o desenvolvimento e o
aperfeiçoamento de sua natureza moral. O homem mal é, de acordo com
Aristóteles, aquele que não alcançou a maturidade ética. Numa palavra só, o
malvado é a pessoa que permanece numa condição de analfabetismo moral.
Aristóteles distingue cinco perfis
entre as pessoas viciosas. São elas:
1.1.O Akolastos: Homem que visa apenas o prazer;
1.2 Malakos - Homem que quer fugir da dor e por isso a evita maximamente;
1.3 Theriotes - Homem que apesar de aparentar ser humano é um animal;
1.4. Akrates - Homem que é fraco de vontade;
1.5 Kakos - Homem que voluntariamente adquiriu o hábito do vício.
1.1.O Akolastos: Homem que visa apenas o prazer;
1.2 Malakos - Homem que quer fugir da dor e por isso a evita maximamente;
1.3 Theriotes - Homem que apesar de aparentar ser humano é um animal;
1.4. Akrates - Homem que é fraco de vontade;
1.5 Kakos - Homem que voluntariamente adquiriu o hábito do vício.
Não
basta desejar bem, nem deliberar corretamente: a deliberação, pesando as
maneiras alternativas para alcançar o fim desejado, não necessariamente escolhe
o caminho moralmente mais valioso. As virtudes éticas revelam-se indispensáveis
para atingir o fim bom.
Portanto,
o hábito virtuoso, ou seja, o desejo bem direcionado é essencial para destacar
a diferença entre o agente virtuoso e o malvado. O hábito virtuoso implica
também a sabedoria prática, isto é, a excelência da função prática da razão.
O
desejo (orexis) do homem perverso tende ao irracional (alogos), visando assim
ao fim aparentemente bom, mas essencialmente mal, digno de reprovação e
moralmente inaceitável. Com efeito, é próprio de uma pessoa ruim aguentar até
grandes desordens emotivas em troca de nada de valioso, e preferir um bem
pequeno a coisas bem maiores.
O
desejo dele é totalmente desequilibrado e irracional. O que desencadeia suas
emoções a perseguir uma meta mais do que outra certamente não é o puro cálculo:
a vontade não depende da deliberação, mas está radicada na esfera dos desejos.
Porém, isso não implica a mera irracionalidade: o desejo é conduzido e
orientado pelo desejável, o qual pode ser moralmente bom ou ruim, sem ser
sujeito a qualquer critério racional de preferência. Para determinar o fim
correto é preciso o hábito virtuoso, o qual se molda mediante a conformação do
desejo às convenções moralmente aceitas pela Pólis, pela família e pelas
instituições.
Resumindo,
o malvado é uma pessoa que não teve educação. Sobre tudo o malvado é uma pessoa
que faz seu próprio bem pela simples razão de ter aprendido tudo errado ou
simplesmente não aprendeu, como eu disse no início um analfabeto moral. Ele se
dirige intencionalmente aos vícios achando que está perseguindo coisas
melhores.
O
malvado são aquelas pessoas que permanecem em uma confusão que não lhe permite
distinguir o bem do mal.
Todas
as pessoas boas ou más agem tendo em vista o que acham ser o próprio bem. A
diferença é que a pessoa boa alcança o que é verdadeiramente bom, e a pessoa
malvada persegue aquilo que é aparentemente bom.
6. CONCLUSÃO
Em síntese podemos concluir
que a ética nos dias atuais é uma das áreas de maior relevância na Filosofia,
sobretudo porque diz respeito diretamente à nossa experiência cotidiana,
levando-nos a uma reflexão sobre os valores que adotamos sobre o sentido de nossas
ações sobre o mundo, como tomamos decisões e assumimos responsabilidades em
nossa vida perante a sociedade.
Partindo deste pressuposto,
observa-se que o homem é visto como sujeito histórico social, e como tal sua
ação não pode mais ser analisada fora da coletividade, uma vez que princípios e
valores estão relacionados à nossa cultura e esses valores são essenciais para
a formação do nosso caráter no que diz respeito a nossa conduta ética moral.
Visto por esse olhar
critico, observamos que Aristóteles ao abordar seu pensamento no Livro A Ética
a Nicômaco faz uma relação entre os conceitos de virtude, felicidade, moral,
razão, desejo, escolhas e responsabilidades, buscando estabelecer os princípios
de uma ética das virtudes para si e para com os outros.
Por fim, Aristóteles
assinala a figura do mal moral, sugerindo a existência da incongruência entre a
boa vontade e o desejo.
7. REFERÊNCIAS
BOTTER, Bárbara. A virtude Ética. Vitória. Nead/Sead. 2016.
http://resumofacil.blogspot.com.br/2009/06/etica-nicomaco.html
http://filosofianomaringoni.blogspot.com.br/
http://www.webartigos.com/artigos/a-etica-em aristoteles/23318/#ixzz45MEnhlbe
http://filosofianomaringoni.blogspot.com.br/
http://www.webartigos.com/artigos/a-etica-em aristoteles/23318/#ixzz45MEnhlbe
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